Centro cardíaco irradia ondas de
energia poderosas, possui uma inteligência específica e pode ser o elo entre
nós e uma realidade transcendente.
Por Reportagem: Liane Alves | Publicado em 15 maio 2013, 20h05
É
inacreditável, mas até hoje se sabe muito pouco sobre o coração. Porém
resultados de pesquisas a respeito desse órgão vital realizadas nos últimos 20
anos estão deixando alguns cientistas completamente boaquiabertos. “O coração é
o centro físico de um sistema circulatório com 75 trilhões de células. É também
o centro eletromagnético do corpo, emanando 5 mil vezes mais eletromagnetismo
que o cérebro e seis vezes mais eletricidade. Cerca de 60 a 65% de suas células
são neurais, exatamente como os neurônios cerebrais”, escreve a autora
americana Cindy Dale num parágrafo que resume boa parte das pesquisas científicas
atuais sobre esse assunto e que faz parte de seu livro The Subtle Body (O Corpo
Sutil, ainda sem versão em português). Hoje já se sabe que o campo
eletromagnético liberado pelo coração tem o mesmo formato do campo que irradia
da Terra ou do Sol. Também já foi provado que ele é extraordinariamente mais
potente que o campo cerebral e que pode ser medido a uma distância de até 3 m.
Estudos científicos indicam igualmente que dentro do coração há um pequeno
cérebro, um sistema nervoso independente, com aproximadamente 40 mil neurônios.
Esse complexo neuronal é gerador de uma inteligência própria, diferenciada, que
processa informações e que também envia sinais para o sistema límbico cerebral
(responsável pelo processamento das emoções) e para o neocórtex (a parte onde
acontecem os pensamentos).
Isso
quer dizer que existe um fluxo constante de troca de informações do cérebro
para o coração e do coração para o cérebro. Na realidade, a troca de
informações do coração para o cérebro é bem maior, fato que acrescenta ainda
mais mistérios nessa relação. “Nosso cérebro emocional-cognitivo tem uma
conexão direta e neural com o coração. Por meio das conexões entre os
neurônios, sinais positivos e negativos de nossas respostas ao momento presente
são enviados a cada momento para o coração”, diz o pesquisador Joseph Chilton
Pearce no livro The Biology of Transcendence (A Biologiada Transcendência, sem
versão em português). “O sistema neural do coração não tem capacidade de
perceber ou analisar em detalhes o contexto dessas mensagens emocionais e
mentais que nos chegam do sistema cerebral límbico e cortical”, diz o
pequisador americano. “Mas é capaz de validar essas mensagens positivas ou
negativas respondendo eletromagneticamente com frequências coerentes (suaves e harmônicas,
que surgem diante de emoções positivas) ou incoerentes (desiguais e
desarmônicas, manifestadas diante de emoções negativas) e dar partida a várias
reações corporais. Dessa maneira, o cérebro, o corpo e o próprio coração são
capazes de responder inteiramente à realidade circundante”, afirma o
pesquisador.
A
teoria do coração inteligente foi fundamentada com pesquisas feitas
principalmente pelo Institute of HeartMath, no Colorado, Estados Unidos. Esse
centro de estudos se dedica há mais de 30 anos às pesquisas relacionadas aos
aspectos biológicos e energéticos ligados ao coração. A essência da filosofia
do HeartMath é comprovar cientificamente que o coração é a chave para
experimentar uma sensação de felicidade amorosa e que com algumas técnicas simples
é possível manter o campo eletromagnético em frequências mais coerentes, isto
é, mais suaves e harmônicas, que propiciem esse sentimento. “O instituto coleta
todas as informações de suas pesquisas e as transforma em ferramentas que nos
ensinam como ouvir – e seguir – a inteligência altamente intuitiva do coração”,
escreveu o pesquisador Doc Children, um dos cientistas fundadores do HeartMath.
Se esses pesquisadores estiverem certos, uma revolução pode estar em andamento:
em pouco tempo seremos capazes de nos manter em vibrações mais equilibradas de
energia com o uso de práticas simples.
Lembranças
nas células
Além
de ser a possível sede de uma inteligência emocional específica, segundo alguns
estudos o coração também teria a capacidade de registrar e reter memórias. No
livro Memória das Células, o dr. Paul Pearsall coletou inúmeros casos de
pessoas que, ao receberem um coração transplantado, assumiam algumas
características de personalidade do doador ou se lembravam de fatos ligados à
pessoa de quem haviam recebido o órgão. “Harold Puthoff [cientista americano
especializado em física avançada] dizia que o coração está relacionado a
processos energéticos e, portanto, informativos, pois a energia transmite
informação. Existe algo a mais nessa história que ainda não foi contado”,
afirmou o médico americano, que tem certeza de que ainda há muito a descobrir
nesse campo de pesquisa. “O coração inteligente é o grande segredo de todas as
tradições espirituais. Estar em sintonia com essa vibração harmônica nos faz
mais cooperativos, criativos, abertos e menos agressivos e competitivos”, diz o
geólogo e pesquisador americano Gregg Braden. “Esse é o caminho que vai nos
tirar do caminho da destruição para o caminho da regeneração”, assegura Braden.
A
amplitude dos campos eletromagnéticos do coração também significa que nosso
campo pode estar em conexão frequente com o campo de outras pessoas.
“Basicamente, um campo eletromagnético contém informação. Se nossos campos se
comunicam e ressoam em conjunto, estamos trocando informação de forma não
consciente”, diz Joseph Pearce. Isto é, nos influenciamos sem perceber. Se
campos eletromagnéticos se expressam em conjunto de forma coerente, poderemos
ver o mundo de uma forma mais pacífica, apreciativa e amorosa. Mas, se a frequência
majoritária for incoerente, nossa visão será afetada pela tensão, pelo medo e
pela raiva, ou outras emoções negativas.
Com
base nessas conclusões, podemos nos imaginar também num Universo onde nosso
campo individual vibra em conjunto com campos planetários, estelares ou áreas
ainda maiores. Ancorados nessa possibilidade, o grupo de pesquisadores do
HeartMath criou um programa global de ressonâncias coerentes (Global Coherence
Initiave, CGI) que não só ensina as pessoas a semanterem dentro de uma vibração
mais harmônica como mantém medidores de frequência em várias partes do mundo
para detectar desequilíbrios e também zonas de equilíbrio e paz. É todo um
mundo novo pronto para se abrir.
No Oriente
já se sabia
Tradições
espirituais de milhares de anos, como a indiana, também revelam muitos segredos
com relação ao coração. “Uma das traduções do sânscrito do chakra cardíaco (Anahata
chakra) é “não tocado”. Isso quer dizer que alguma coisa muito pura e
intangível está encerrada nele, algo sutil e eterno que está além do tempo”,
diz o monge inglês Peter Sage (Dada Vishvarupananda), do grupo internacional de
ações voluntárias Ananda Marga, que há 32 anos estuda e pratica as tradições indianas
dentro da linha do tantra ioga. “A evolução espiritual humana passa pelos
desafios apresentados em cada chakra a partir do centro básico [muladhara chakra].
Mas é no centro cardíaco que se desenvolvem qualidades mais positivas, em
comparação com os centros de energia inferiores.
”Porém,
nem tudo são flores nessa área: o chakra anahata é também conhecido como a
mandala da tormenta. “Isso significa que ali se desenvolve uma luta entre as
qualidades positivas e menos positivas representadas pelas 12 qualidades, ou
vritti, visualmente simbolizadas pelas 12 pétalas em volta desse centro
energético”, explica Peter Sage. “Esses atributos se apresentam sob a forma de
dicotomias polarizadas – esperança versus depressão, por exemplo. Em
desarmonia, podem causar turbulências no centro cardíaco.
”Os
vritti também revelam a importância desse chacra com relação a emoções e
sentimentos. Se ali existem as pétalas relacionadas ao amor, à esperança, ao
arrependimento, à imparcialidade e ao poder de discernimento que enxerga além
das aparências, também estão presentes a arrogância, a indecisão, o desejo de
enganar, a ansiedade, a preocupação e o egoísmo. Enfim, um retrato bastante
preciso e verdadeiro do coração humano. De acordo com a tradição indiana,
também é no coração que está assentada Shakti, o poder universal feminino, sob
a forma de Kakini, deidade representada vestida de dourado com espada e escudo,
sentada numa flor de lótus vermelha.
“Ela
representa o poder discriminativo do coração e sua capacidade em separar, com a
espada, o certo do errado e o que é importante do que não é, com discernimento
e precisão. A divindade também indica que o coração é um lugar protegido, um
lugar onde podemos nos abrigar, por causa do seu escudo”, fala o monge.
Os
sufis, vertente mística do islamismo, também atribuem extraordinária
importância ao coração. Para eles, diferentes invólucros luminosos de várias
cores envolvem o órgão vital, cada um deles representando uma qualidade ou
atributo a serem desenvolvidos em direção a uma maior consciência e união com o
divino, num processo espiritual chamado lataif, que tem o voto do sigilo e por
isso não pode ser revelado abertamente. “Geralmente essa prática começa com
exercícios que estimulem a coragem e a esperança, simbolizadas pela cor
branca”, diz o americano Will Van Inwagen, que pertence a uma linhagem sufi com
ramificações nos Estados Unidos. “Para os homens, mais especialmente, chega a
ser petrificante trabalhar diretamente com a energia do coração, precisamos
exatamente de muita coragem para isso. É muito difícil para nós entrarmos em
contato com a pura vibração do amor”, diz Inwagen. Mas, para ele, esse é o
caminho que pode levá-los a uma maior integração interna com seu aspecto
feminino. “Temos as duas energias dentro de nós e é importante trabalhá-las. A
prática do lataif nos dá essa possibilidade”, diz.
Nas
diversas formas de budismo em todo o Oriente, a mente se localiza no coração.
Ninguém a localiza no cérebro. Na China, o coração-mente é chamado de shen, no
Japão, de shin. Muitos lamas tibetanos, quando falam sobre a mente em seus
ensinamentos, apontam na direção do meio do peito. Mesmo na medicina chinesa, o
coração é considerado a sede da inteligência e recebe o significativo nome de
imperador. Para a maioria das tradições orientais, o coração (ou o meio do
peito) é a porta para uma realidade transcendente.
Ou
seja: há muito tempo as tradições espirituais afirmam o que a ciência começa a
descobrir hoje.
A
perfeita união com o amor
Dentro
do Cristianismo, especialmente o Ortodoxo, o coração também tem um importante
papel. O Peregrino Russo, obra anônima publicada na Rússia no século 19, narra
a história de um homem que poderia ser considerado muito atual: totalmente
desiludido com a religião e afastado das formas tradicionais de culto. Enfim, o
peregrino russo poderia ser qualquer um de nós em busca de uma espiritualidade
mais interior e uma ponte para um contato direto com Deus. Na sua jornada
espiritual, ele acaba se encontrando com um staretz, um eremita, que o ensina
uma potente oração composta de uma única frase: “Nosso Senhor Jesus Cristo,
tende piedade de mim, pecador”. Segundo os conselhos do staretz, essa frase
deveria evocar o mais profundo desejo de amor e união com Deus e sincero
arrependimento. Além disso, precisaria ser repetida milhares de vezes com a
atenção focada no coração. Dizia o eremita que, com o tempo, o poder dessa
prece romperia “a pedra do coração” até o amor jorrar em toda sua plenitude. O
peregrino segue seu conselho e acompanhamos suas dificuldades até ele chegar ao
ponto em que seu amor a Deus explode em seu coração. É uma das páginas mais
bonitas da literatura espiritual de todos os tempos. A oração do coração (e o
conjunto de preces recitadas pelo padres do deserto na Etiópia no século 3)
nasce da influência de muitas linhas espirituais e não pertence apenas aos
cristãos nem à tradição ortodoxa. “Existe nela elementos que pertencem a toda a
humanidade e que encontramos no hinduísmo, no budismo e também, claro, no
judaísmo [cabala] e no sufismo [islamismo]”, diz o padre ortodoxo francês
Jean-Yves Leloup no livro a Sabedoria do Monte Athos (Editora Vozes). Para
Leloup, que é doutor em teologia, psicologia e filosofia e autor de vários
livros, essa frase tem o poder dos mantras em conjunto com a força do amor
localizada no coração: a perfeita união.
Para
a doutrina espírita, esse centro de energia tem o tom de ouro brilhante, com
cada um de seus quadrantes dividido em três partes, ou seja, em 12 ondulações,
ou raios energéticos. “O coração é um dos principais chacras de absorção e
doação de energias que vão do ser humano ao Universo”, diz Aracelis Mirabello,
terapeuta de São Paulo que usa em seu consultório técnicas e recursos para
equilibrar essa energia. “Mas nos esquecemos de como entrar em contato com ele
para usufruir dessa possibilidade.” Amir El-Alouar, terapeuta de São Paulo da
linha psicobioenergética, também fala das consequências em nossa vida quando
nos desligamos dessa harmonia. “Ao nos desconectarmos da sabedoria inata de
amor do coração, o intelecto e o ego assumem o controle. Nos voltamos para uma
mentalidade de sobrevivência baseada no medo, na ganância, no poder e no
controle”, afirma. Dessa forma, diz El-Alouar, passamos a acreditar que estamos
separados uns dos outros, e a nossa percepção da vida muda do amor e da unidade
para a sensação de limitação e escassez. “Mas é no coração onde podemos encontrar
de novo esse sentimento de força, vitalidade e abundância generosa”, diz o
terapeuta, que desenvolveu uma série de exercícios ligados ao timo (que
energeticamente faz parte do centro cardíaco) para possibilitar essa conexão.
Seja por meio de técnicas científicas, das tradições espirituais, seja por meio
de terapias, cada vez mais portas se abrem em direção a essa força amorosa e
transformadora do coração que pode habitar de novo nossa vida.
Mudança
de energia
Uma
das técnicas mais simples do Instituto of HeartMath, a freeze frame (tela congelada)
é descrita com detalhes no livro The Biology of Transcendence, do pesquisador
americano Joseph Chilton Pearce. Segundo os estudos desse instituto, esse
método permite acesso à sabedoria intuitiva do coração e oferece a oportunidade
para que as ondas do campo eletromagnético emitido por ele se expressem em frequências
suaves e harmônicas (ou coerentes). Veja como:
1.
Reconheça imediatamente quando algo estressante o está afetando. Congele a
imagem desse momento na sua cabeça numa tela mental.
2.
Mude sua atenção para a área do coração e fique ali por alguns segundos ou
minutos. Respire normalmente.
3.
Visualize agora um momento altamente positivo em sua vida, onde se sentiu pleno
e feliz, e tente experienciá-lo novamente. É importante não só visualizar mas
também provar de novo a sensação proporcionada por essa experiência. Deixe esse
sentimento de felicidade ocupar seu peito por alguns segundos ou minutos.
4.
Pergunte a seu coração: “O que posso fazer para que essa situação estressante
seja diferente?”
5.
Escute a resposta (que pode vir em imagens) que seu coração poderá enviar.
Mesmo
que ao começar a praticar o exercício você não escute nenhuma resposta, estará
mais calmo e equilibrado para agir na situação. De qualquer forma, ele será
benéfico, segundo afirmamos pesquisadores do Heart Math.